segunda-feira, 16 de junho de 2014

Gen Pés Descalços

Sinopse: "Gen Pés Descalços: Uma História de Hiroshima aborda a situação do Japão e da família pacifista de Gen durante a Segunda Guerra até o momento em que a bomba explode e destrói sua cidade.”

Direção: Mori Masaki

Duração: 83min.

Pense na história mais triste que você já viu ou ouviu, transforme num verdadeiro atentado, uma guerra acontecendo logo ao lado, causando a falta de comida e trabalho. Adicione pessoas inocentes e transforme tudo em “baseado em fatos reais”. Isso é, mais ou menos, Gen Pés Descalços (ou Hadashi No Gen), uma das histórias mais tristes que já vi, baseada em fatos reais, numa animação com traços de anime.

A história já virou mangá, anime, algumas versões de animação e um live-action, e parece ser mais triste a cada adaptação. O personagem principal é o Gen, filho do meio de uma família pobre japonesa que mora em Hiroshima. A animação começa já durante a guerra, e acompanha a família do Gen nos dias que antecederam a queda da bomba atômica. Gen tem sete anos, um irmão mais novo e uma irmã mais velha, a mãe está grávida, e eles ajudam o pai com o trabalho numa plantação. A família é pobre, mas eles não sentem muito o impacto da guerra, fora alguns alarmes disparando quando aparece algum avião inimigo, nada realmente acontece.

A cada sequência, o desenho parece ficar mais e mais triste. A mãe está grávida, mas falta comida e logo ela tem um problema de desnutrição que pode afetar o bebê – o médico recomenda que ela coma melhor, mas a família não tem como bancar isso. Os dois meninos resolvem pescar num lago vizinho, ilegalmente, e até são pegos pelo dono da propriedade, mas conseguem convencê-lo e dão o peixe inteiro para a mãe.

É justamente quando tudo parece um pouco melhor que a bomba cai. E é provavelmente a sequência mais... Gráfica de toda a animação. Só o Gen vai para a escola, ele chega a reconhecer o avião sobrevoando a cidade e pergunta por que o alarme não foi disparado, quando a bomba atômica é lançada. É praticamente um milagre que ele tenha sobrevivido. As construções são destruídas conforme a força da explosão avança, as pessoas derretem antes que consigam começar a fugir, árvores são arrancadas e pegam fogo. A bomba cai lá pelos 30min de filme, eu já estava chorando desde os 15min.

A partir daí é a briga para se manter vivo, Gen volta para a casa – e a encontra pegando fogo -, e consegue fugir com parte da família, mas, na cidade destruída, não tem muito para onde fugir. As desgraças vão se acumulando quando o governo japonês não desiste da guerra, as pessoas não sabem lidar com todos os problemas causados pela radiação e tem mais mortos do que pessoas para enterrá-los. A comida, que já era pouca, vira quase um luxo, a água está contaminada e Gen ainda é uma criança.

O mais surpreendente é o final: as coisas não ficam magicamente bem, mas o desenho tem aquele final esperançoso. No começo da história, o pai do Gen fala que eles devem ser como o trigo, que é forte e sempre volta a crescer, mesmo nas condições extremas, continua vivo e forte. E é isso que o Gen lembra no final – o trigo volta a crescer e as coisas podem voltar a se ajeitar.

A história é real, mais real do que qualquer pessoa gostaria, o Gen é um alter-ego do autor, Keiji Nakazawa, sobrevivente da bomba de Hiroshima que faleceu em 2012 – ele tinha seis quando a bomba foi lançada. Fica ainda mais triste, mais desesperador , quando você lembra que aquilo não é tudo. É retratada a pobreza e a miséria causadas pela guerra, a verdadeira estupidez do governo, que não reconheceu a derrota quando a guerra estava perdida há muito tempo, as desgraças causadas pela bomba atômica e suas consequências – milhares de mortos na hora, milhares de mortos nos anos seguintes, crianças órfãs, desabrigados, água e comida escassas, despreparo total que causou maus-tratos aos sobreviventes. Pelo ponto de vista do Gen, vemos alguns desses dramas e algumas histórias tão tristes quanto a dele próprio. É fácil, aqui, sentir o ódio aos que causaram isso. E, ao mesmo tempo, é incrível, admirável e surpreendente que o final seja o mais próximo de “feliz” que uma história assim poderia chegar.

Enfim, recomendo e muito a animação, mas não para um passatempo, nem para “qualquer hora”. É daquelas histórias pesadas que te deprimem, então cuidado. Mas também é, com certeza, lindo, triste e terrível ao mesmo tempo e merece ser assistido/lido.

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